quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Mexerica



Adoro comer mexerica - os rituais
De fazer um cortezinho em cima
Enfiar o dedo indicador e sair puxando
A casca saindo direitinha, macia
- Parece que fizeram mexerica só pra casca sair bem -
Os prazeres
O cheirinho bom subindo
E ela ficando nuinha em gomos
E eu separando os gominhos
O cuidado de não estourar
O cuidado de sentir bem o veludo branco
E ver bem os saquinhos de suco arrumadinhos
Esperando minha boca
Que já nem liga se é doce ou amargo
Ou um gosto todo novo
Gosto de quê?
(Meu amor, eu quero comer mexerica com você)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Escrever sempre foi minha única solução. Eu não sei falar, não consigo. Quando sai a minha voz, sai chorando, gritando, tremendo.

Não é uma solução. Não tem solução.

Lá vem ela. Faz uns dias que ela está à espreita. E eu estou desesperada por algo que a contenha.
Mas daqui a alguns dias eu vou começar a brigar com todas as pessoas. E então ela não deixará eu me comunicar com mais ninguém. E então eu vou querer morrer. E é engraçado.

É engraçado como as pessoas não sabem lidar com isso. Está fora do mundo prático permitido. Está fora dos discursos da direita e da esquerda. Ninguém sabe o que fazer quando alguém chora. Quando alguém chora, a gente chora também e abraça. É tão simples. (Mas só se você perceber que ela quer isso, o que também é muito simples.)

Não resolve nada - não tem solução - mas a compressão de um abraço é um amolecimento tão... esquecedor ("abraço é uma compressão que afrouxa" - também sei fazer frases idiotas). Às vezes eu até esqueço. E num é assim? A gente esquece um pouquinho, depois lembra, depois esquece...

Então para de buscar solução, garota. Para de procurar.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Tão lindo...

Se eu não sei escrever meu próprio riso
Como escreveria o de namorados tomando banho juntos?
Não tinha mesmo pretensão de escrever
Só queria guardar isso
Como coisa que tem que ser protegida
De todo o resto desimportante
Pesado, feio, sujo

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Hum...

Gosto das coisas inacabadas, não tenho andor de acabar as coisas.
Uma bolsa branca de crochê é pra nunca se terminar. A tiara laranja eu terminei e esqueci, sei nem cadê. A bolsa não, ela tá lá, sempre uma coisa que não se define, um talvez-bolsa, um devir-bolsa, um chapéu.
Na música mais linda que eu sei tocar sempre falta um acorde de si menor.
E você, você se chama Pax, o ser que não é homem nem mulher. O ser que é poesia.
E eu, eu me chamo sem nome. Espero um nome que você há de me dar.
E eu plantei em você um inacabamento - um beijo inacabado.
Um beijo inacabado, uma vez inacabado, não acaba nunca, é um beijo infinito, Pax.
Nós estamos nos beijando infinitamente, meu carinho.
Mesmo que nossos olhos nunca mais se encham d'água de sermos tão pó
Mesmo com abraços-não-há
As coisas inacabadas são sempre - eis o mistério.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Quero-te para grandes conversas
Mas essencialmente para despalavramentos
Para momentos de grande olhar
E de grande acordo entre nossos abraços e as árvores

domingo, 11 de dezembro de 2011

Forte

Minha irmã disse pra mim:
"Você t'avê uma criança hoje..."

Então é o brincar que faz a criança?

Essa ânsia de brincar o dia inteiro
Do movimento do corpo e da imaginação
A carinha fechada quando interrompem

(Adultos são os seres sem abraços
Sem braços
A solidão é um adultecimento nato do ser humano)

Sim, é o brincar que faz a criança
Brinquemos, pois.

domingo, 4 de dezembro de 2011

D7M(9)/F#

Por que que depois que o pai da gente briga com a gente, a gente não pode mais tocar violão?
Acho que ele ia achar que eu não tô nem aí pro que ele diz.
Mas é exatamente assim que eu me sinto: nem aí. Eu só quero o meu violão.

Não gosto



Não gosto quando meus amigos arrumam namorado, da. Não gosto quando meus amigos se casam. Não gosto quando meus amigos estão quase se formando. Não gosto quando meus amigos tem filhos. Não gosto quando meus amigos trabalham.

Vão crescer longe de mim. Me dá vontade de chorar só de pensar que vocês tão crescendo. Eu não deixo vocês crescerem.

Eu me sinto tão criança e vocês aí tendo filhos, sendo médicos, advogados, sociólogos? Não pode, não pode, não pode! Eu ainda nem beijei alguém de-mo-ra-da-men-te e sem pressa e vocês estão casando?

Não pode, não pode, não pode!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

I miss you...

Nada como um trabalho de 20 páginas - que é a minha última chance de não reprovar a disciplina na faculdade - para me fazer esquecer todo um vazio dentro do peito.

Substituir "Livro do Desassossego" por "Causalidade e Epidemiologia".

Senhor Nada, só mais uma semana e a gente pode se amar. Até lá.