Camilla, concordo com você. Mesmo, mesmo, mesmo.
Você deve estar muito cansada.
Lutar, lutar, lutar e ver que não existem pessoas dispostas a fazer o mesmo que você fez todos esses anos para continuar o seu lutar, lutar, lutar... deve ser o mais cansativo (ou irritante).
Pois é. Não vou colocar aqui a desculpa de que não fui porque acordei tarde (de fato, acordei já 10 horas), porque quando eu quero sair pra namorar, eu coloco o despertador e chego no lugar beeeem cedinho. Não coloquei isso de namorar à toa. É que pra sair pra namorar eu tenho VONTADE. Pra ir participar da maioria das 'coisas' do C.A. eu não tenho. Então fica fácil arranjar desculpinhas ou me fazer de vítima, como eu já me fiz muitas vezes.
Camilla, Max e todas essas pessoas que tem vontade e ânimo de ir à luta diariamente... PARABÉNS, eu admiro vocês, mas eu não sou assim. Às vezes eu quero, às vezes não. Às vezes eu só quero ficar em casa com meus livros.
Aí vocês dizem: "NÓS TAMBÉM, JAYANE! Mas nós não fazemos isso porque acreditamos em algo e blablabla".
Pois é exatamente nisso que eu não consigo acreditar. Eu não tenho certeza de nada que eu faço.
Eu não consigo fazer as coisas apenas pelo interesse comum, sem colocar o meu próprio interesse no saco. E não acho que isso seja sujo, feio ou ruim. Acho que NINGUÉM FAZ AS COISAS SÓ PELO INTERESSE COMUM.
Eu consigo ver as absurdidades do nosso mundo, claro que vejo. Mas eu quero viver, caramba!
Tudo que eu quero é sentir que estou viva! E o meu "se sentir viva" nem é nada demais... Na maioria das vezes é só ler e escrever meus livrinhos.
Sobre os calouros, não quero discutir nada com eles AGORA, porque eles simplesmente não estão nem aí e não acho que eles estão de parabéns nem que mereçam passar por (mais) 6 anos alienantes naquela faculdade. Tenho é pena dos bichinhos, todos animados com a universidade. E não é só porque é medicina. Qualquer curso é um caos.
Ah, mas o papel do Centro Acadêmico... Pois é, a gente luta pelo que mesmo? São um milhão de problemas a serem resolvidos, um milhão de pessoas com quem a gente tem que brigar e passagens em sala que ninguém escuta, nem dá atenção e manifestações que chegam a ser risíveis aos dirigentes e ... ... ... ... ... ...
E não é que eu esteja desistindo. Não é mesmo. Porque meu ânimo se reacende por qualquer coisinha. Mas até essa coisinha não existe.
Eu não quero deixar minha cama e meu Rosa num dia nublado para passar tinta na cara de gente. Eu fiz isso ano passado, mas só fiz porque tinha interesse sexual por uma das pessoas que iam estar lá. (Ah, e se você riu disso é porque tem também)
("Ah, mas eu fui, porque eu acredito nos calouros e blablabla." Parabéns pela sua fé, então.)
Aliás, grande parte da minha presença em atividades do C.A. foi motivada por interesse sexual, afetivo ou intelectual. Porque eu sou muito carente (outra coisa que eu não acho errada, nem feia, nem tenho vergonha). E o C.A. era o único lugar onde eu me encontrava na faculdade.
ERA.
Porque eu já não sei se me encontro mais.
Aliás, eu vou pro COBREM e aquilo no que mais penso é que vou reencontrar um amigo lá. Vou pro COBREM mais por uns abraços de alguém que eu gosto e algumas horas de conversa do que por discussões propriamente ditas. Porque eu já percebi que elas ou são repetidas, ou vão ser esquecidas em breve.
(Nossa, que belo exemplo pros mais novos, que belo incentivo à tão falada transitoriedade!)
Meu desejo de mudança existe.
Mas não resiste.
Não resiste ao meu desejo de vida.
(Por mais carcomida que seja)
Não resiste a tanto tempo.
Eu troco qualquer discussão importantíssima sobre política por um minutinho que seja com uma pessoa que eu goste.
Política não dá prazer ao meu corpo. Não me toca, não me alimenta. Não me seduz.
Pelo menos não agora. Eu não sei como vai ser amanhã ou depois.
E não, a faculdade de medicina também não me seduz, na maioria das vezes. E no entanto eu continuo indo, né? Olha, que contradição! Olha que contradição a falta de opção.
É assim que eu me sinto. E eu tenho certeza que não sou a única.
E achei melhor responder logo, assim que li, porque sei que não responderia se deixasse o tempo passar.
E, se respondesse, acabaria enchendo o texto de hipocrisias. E eu já estou cansada de todas elas.
Eu já quis dizer isso muitas vezes, mas sempre acabava pensando: seria praticamente uma carta de saída do C.A. Mas, enfim, eu já escrevi isso tudo, foda-se, e só falta clicar em ENVIAR.
"Personne ne prend au sérieux à 19 ans."
Ah, e eu não vou mandar um ABRAÇÃO OU UM XERÃO BEM GRANDE pra ninguém. Porque eu não acho isso real, tantos abraços e tantos beijos quando na verdade tá todo mundo cortando uns aos outros ou se escondendo pra não falar o que realmente pensa.
(Pronto, agora só falta colocar isso como resposta ao e-mail-bombardeio da Camilla.)