Li o "Grande Sertão: Veredas". E a novela "Campo Geral", aquela do Miguilim, é melhor. Guimarães estava com Deus nos couros quando escreveu "Campo Geral".
Bem, o que me aconteceu em "Grande Sertão: Veredas"? Aconteceu que o livro tem um ritmo que não vou adjetivar, mas que foi assim, pra mim: as primeiras 100 páginas foram um sacrifício. Mesmo. Lia com dor, quis desistir, desisti várias vezes - e nisso eu passei mais de um ano. No que, levo essas 100 páginas lidas para Limoeiro do Norte. E lá, a mágica aconteceu. Com uma certa dorzinha adolescente em contrariar meu amado Bernardo Soares, eu mudei com a paisagem, assim como o livro. Virei a página e lá estava Riobaldo finalmente galopando nas matas de buritis, em vez de se rastejar pelas areias quentes dos sertões. Aí foi rápido: em 4 dias eu estava a 100 páginas do fim. E aí? Alegria total? Arranque final? Não. Aí o livro se tornou totalmente previsível. No que, com certa ironia, eu cito o próprio Guimarães, no exato "Grande Sertão": "o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia".
E estaria tudo acabado... se o livro não fosse escrito por João Guimarães Rosa. O enredo já estava certo para mim (aliás, antes mesmo das 100 páginas finais), porém, ler Guimarães tem sido sempre uma desconstrução - da língua, do sentido, da História, de mim, de você. E é sempre uma sabedoria adivinhada em cada pedacinho de texto. Eu não gosto de religiões, condeno instituições e ignoro a existência de um Deus... mas tenho meus cultos. O texto de Guimarães Rosa é um dos meus cultos. E "Grande Sertão: Veredas" foi um grande encontro com os meus sagrados. Adoro palavras, letras. Gosto de comê-las com farinha de macaxeira e mel de abelha de jurema, debaixo de um pé de juá. "Grande Sertão:Veredas" chega é doce. (Mas o Miguilim é mais.)
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