segunda-feira, 31 de outubro de 2011
LVII - O Último Poema
São 3 e 9 da madrugada
E eu ainda não consegui dormir
Não é por causa boba
É pela causa mais importante:
Acho que eu descobri o que eu quero
-Silêncio, tenho medo que me fuja!-
O que eu quero é assim,
A coisa mais natural de se querer
Quantas voltas tive que dar
Para chegar ao que fácil se vê
A visão que me veio foi assim:
Um homem e uma mulher
Sentados, um de frente para o outro
Nos bancos de uma rodoviária movimentada
O diálogo, em que só a mulher fala, é dos séculos:
- Fim de toda a baboseira!
Tudo quanto viemos conversando é chiado de rádio
E nós queremos o simples, o refinado: a música
Nós somos dois
Eu sou mulher, você é homem
E, antes disso, eu sou corpo, você é corpo
Nós temos vísceras por dentro
Nossas tripas estão cheias de merda
E nosso sangue vai dentro de tubos
E eu te conheço há tanto tempo
E nunca toquei seu cabelo
E nunca toquei seu rosto
E nunca toquei seus lábios
Tudo quanto viemos conversando é chiado
Eu nunca toquei seus lábios
Teu corpo nunca sentiu o meu
E falamos como dois gravadores colocados perto um do outro
Me dá tua mão!
Me dá teu cabelo!
Me dá teu pau!
O que não é abraço é chiado
O que não é sangue é estática
Só se faz música beijando
Só é poesia o que é sexo
De nenhuma filosofia me lembro tanto quanto de um beijinho na mão
E nenhuma literatura vale mais que um cheiro no cangote!
E aí eles já choravam
E aí eles já beijavam
E aí eles finalmente se davam
A ficar calados
Para ouvir a música
LVI
Fulano está em um relacionamento divertido com Alguém-Que-Pode-Lhe-Interessar
Contatos para ménage à trois: 2666-6969
Contatos para ménage à trois: 2666-6969
sábado, 29 de outubro de 2011
LIV
Hoje o dia durou uma eternidade
E a eternidade valeu, só por esta tarde
Fui pra cozinha na hora certa
E preparei a merenda pra minha avó:
Uma tapioca cheia de queijo
- que não suba a pressão, amém -
E um cafezinho
Ela ficou sentadinha, bonitinha, tomada banho
Me vendo ralar queijo, peneirar goma, passar café
E ficava me contando as traquinagens dos netinhos dela:
"O Pedrinho, daquele tamanho, dizendo que a mãe devia pegar o esperma do pai, colocar dentro dela e fazer um irmãozinho pra ele! Esses meninos de hoje..."
Cortou o braço, não se lembra como
E eu fiz um curativo
"Minha pele tá cada dia mais fininha..."
Vem da sala pro quarto, segurando na parede
Me contar que a mulher da novela tem um vestido igual ao dela
"E eu pensando que gente velha não usava essas coisas"
Gente velha, que mistério na vida!
De ser assim sozinha, doze filhos, dezenove netos, nenhum velhinho
"Seu avô nunca disse essas coisas de eu te amo"
No médico, impaciente, cansada de esperar
E depois de um exame difícil, ela chora
"Que é que eu fiz da minha vida, meu Deus?"
Que é que a gente faz da vida, vó?
A gente tenta amar, comer, sorrir
E tenta também fazer curativos pros cortes que vão aparecendo
Se não sarar, a gente segue, se segurando nas paredes
E vai afinando, até desaparecer
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
LIII
Sou um ser sufocado
Essa falta de ar
Essa falta de ar
Essa falta de ar...
Ela me deixa falar
Não tem é pra quem
Não tem é porquê
Não tem é quando
Não tem
Essa falta de ar
Essa falta de ar
Essa falta de ar...
Ela me deixa falar
Não tem é pra quem
Não tem é porquê
Não tem é quando
Não tem
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
9 - Ô, besteira!
Tem um menino que gosta de mim na escola, digo, faculdade.
E faz tempo... Mas só hoje deu vontade de pensar nisso.
Porque eu fui bem bonita hoje, até eu sabia disso - que eu estava linda!
As pessoas me olhavam na rua e o rapazinho da topic disse: EITA!
Chega eu andava com pose, não pisava no chão - e, se pisava, era num chão coberto de flores.
Completei tudo com um sorriso e estava me achando e sendo no mundo.
Aí alguém, de longe, grita meu nome.
Olho para trás, era o menino!
Ele sorri pra mim - sorriso de: "ela nem me nota, mas é tão linda..."
Eu sorrio pra ele - achando ele tão lindo!
Faz mais de ano que eu percebi que ele gosta de mim
Qualquer um nota...
Até poema ele já me escreveu - que eu devolvi, cruel.
Já esnobei ele de todo jeito.
Fui rude mesmo, uma vez em que estava do lado de outra pessoa - que me esnobava.
As pessoas são cruéis. Eu sou também.
Mas hoje, que eu era a menina mais linda do mundo, que eu não quero amar ninguém, que eu não sofro por ninguém... Hoje eu vi o menino. E deu essa vaidade de dizer isso: alguém gosta de mim.
(Como era mesmo aquele poema?)
E faz tempo... Mas só hoje deu vontade de pensar nisso.
Porque eu fui bem bonita hoje, até eu sabia disso - que eu estava linda!
As pessoas me olhavam na rua e o rapazinho da topic disse: EITA!
Chega eu andava com pose, não pisava no chão - e, se pisava, era num chão coberto de flores.
Completei tudo com um sorriso e estava me achando e sendo no mundo.
Aí alguém, de longe, grita meu nome.
Olho para trás, era o menino!
Ele sorri pra mim - sorriso de: "ela nem me nota, mas é tão linda..."
Eu sorrio pra ele - achando ele tão lindo!
Faz mais de ano que eu percebi que ele gosta de mim
Qualquer um nota...
Até poema ele já me escreveu - que eu devolvi, cruel.
Já esnobei ele de todo jeito.
Fui rude mesmo, uma vez em que estava do lado de outra pessoa - que me esnobava.
As pessoas são cruéis. Eu sou também.
Mas hoje, que eu era a menina mais linda do mundo, que eu não quero amar ninguém, que eu não sofro por ninguém... Hoje eu vi o menino. E deu essa vaidade de dizer isso: alguém gosta de mim.
(Como era mesmo aquele poema?)
terça-feira, 18 de outubro de 2011
LII - Such a fool for you
Você me deixa besta
E besta é uma coisa que só existe aqui
No nordeste do país Brasil
Mas você me deixa besta em qualquer lugar
E besta é uma coisa que só existe aqui
No nordeste do país Brasil
Mas você me deixa besta em qualquer lugar
LI - A Um Ser Insuportável
"Se acaso me quiseres, eu sou dessas mulheres que só dizem sim"
É mesmo tão difícil dizer sim?
Se eu te encontrar, em algum lugar
Tudo que eu quero te dizer é isto:
Oi. Adeus.
Eu não quero ficar perto de você:
Você não existe!
Tudo que você faz é falso
Seu sorriso é falso
Suas mãos não pegam a pele
Você não consegue ficar perto de pessoas
Você tem medo de pessoas
Não responde cartas
Não responde e-mails
Não devolve telefonemas
Se algo de verdade se aproxima
Você corre, morrendo de medo
Medo de quê, meu Deus?
Eu nunca te faria mal algum
Eu sou de verdade:
Eu faço besteira
Eu grito
Eu choro no meio da rua
Eu bato nas pessoas quando eu quero
Eu dou pra quem eu quero
(E até sem camisinha!)
Eu ligo a qualquer hora da noite
Eu não ligo, eu não ligo
Mas você, você me adoece
Porque você não existe
E eu te odeio profundamente
E te amo profundamente também
Porque eu sei que em algum lugar aí dentro existe alguém
E eu tenho essa mania de cavar, cavar, cavar, até achar
Mas você, você me adoece
Eu quero brigar com você
Eu quero te dar um tapa
E quero que você me bata também
Mas você não briga, você não bate
Você não, nada.
Talvez você sinta que eu sei que você não é bom
Eu sei que você não é educado
Eu sei que você não é fofinho
Bonzinhos sempre dizem sim
E você, você não diz sim, nunca!
Você só lê sobre sins
Você só ouve músicas sobre sins
Você só fala sins em francês
Mas nunca comete nenhum pecado
E é por isso que eu te odeio
E é por isso que eu te amo
E nem te dizer isso eu posso
Quando eu te encontrar na rua
Porque você, você não existe
L
- Flautinha, queres ir comigo ao baile de sexta?
- Por supuesto, formosa viola!
E foram - ele dentro dela, fazendo música juntos.
- Por supuesto, formosa viola!
E foram - ele dentro dela, fazendo música juntos.
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
IL
A mulher nua estava aprendendo inglês. Do banho, via: empty corridor.
Aí ela abraçou a água. Então, ela chorou.
Seus pingos foram pelo ralo:
Corre dor! Corre dor!
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