Minha mãe é esperta, bem espertinha
Viu que meus poemas eram
Delírios de quem não pisa no chão
Rasgou e colocou os dela:
Água 32
Gás 38
Luz 55
Feira 350
Condomínio 400
"Minha filhinha, quer suco?"
"Mas é muito linda da mamãe! Benzadeus!"
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
XLVII - Conversa Entre Mulheres
Minha mãe é burra, burrinha
Ela pegou um caderno antigo
Onde eu escrevia poemas
Arrancou todos os meus escritos
Sem ao menos ler, nem um versinho
Agora usa as folhas limpas
Pra anotar as contas do mês:
Água 32
Gás 38
Luz 55
Feira 350
Condomínio 400
Ela não é só analfabeta funcional
Ela nem ao menos acha estudo a coisa mais fina do mundo
Minha mãe é a Macabéa
Não sabe que é
O pai dela morreu, ela chorou, depois foi terminar de fazer a janta
Minha mãe tem medo de elevador
Tem medo de escada rolante
Compra xampu pela cor do tubo
E Colgate, porque a televisão diz que é bom
Vou deixar o caderno no lugar em que achei
Vou fingir que não vi
Mãezinha nem traquinagem sabe fazer:
Traquina e deixa à mostra
Nem sabe que fez coisa errada
Ela pegou um caderno antigo
Onde eu escrevia poemas
Arrancou todos os meus escritos
Sem ao menos ler, nem um versinho
Agora usa as folhas limpas
Pra anotar as contas do mês:
Água 32
Gás 38
Luz 55
Feira 350
Condomínio 400
Ela não é só analfabeta funcional
Ela nem ao menos acha estudo a coisa mais fina do mundo
Minha mãe é a Macabéa
Não sabe que é
O pai dela morreu, ela chorou, depois foi terminar de fazer a janta
Minha mãe tem medo de elevador
Tem medo de escada rolante
Compra xampu pela cor do tubo
E Colgate, porque a televisão diz que é bom
Vou deixar o caderno no lugar em que achei
Vou fingir que não vi
Mãezinha nem traquinagem sabe fazer:
Traquina e deixa à mostra
Nem sabe que fez coisa errada
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
XLVI
Tem gente que a melhor coisa que fez por mim foi ter saído do meu redor
Plantinha, ainda nascendo-crescendo, com erva-daninha, atrofia
Plantinha, ainda nascendo-crescendo, com erva-daninha, atrofia
XLV
Brigar com pessoas do meu tamanho é uma covardia:
comigo mesma!
Não vou brigar com eles
Me recuso a fazer isso comigo
Os grandes é que precisam de grito!
comigo mesma!
Não vou brigar com eles
Me recuso a fazer isso comigo
Os grandes é que precisam de grito!
XLIV - Poema Pra Você Jogar Na Lixeira
É saudável cometer atrevimentos.
Hoje, me atrevi:
Não falei - "o lixo causa doenças x e y"
Falei - "o lixo é feio"
Todos riram - fui tola!
E foi isso que eu pedi antes de apresentar meu sério trabalho acadêmico:
"Que eu seja tola, agora, e que meus colegas se sintam melhores com a minha tolice"
A estética do lixo me aproxima dele
O riso me aproxima das pessoas
terça-feira, 27 de setembro de 2011
XLIII
A maior parte das alegrias - em ser diferente
Ficará só na alegria - em ser diferente
Toda a alegria - em ser qualquer coisa
Ficará só na alegria - de ser essa coisa qualquer
A motivação de salvar o mundo é linda
Mas a revolução interna é a que motiva
Alegria por alegria
Parece muito dependente
Coisa que não vem da gente
Coisa que se tem que provar
Não concordo com o caráter
Não tenho que ser feliz
Não estou a fim de achar lugar
Ficará só na alegria - em ser diferente
Toda a alegria - em ser qualquer coisa
Ficará só na alegria - de ser essa coisa qualquer
A motivação de salvar o mundo é linda
Mas a revolução interna é a que motiva
Alegria por alegria
Parece muito dependente
Coisa que não vem da gente
Coisa que se tem que provar
Não concordo com o caráter
Não tenho que ser feliz
Não estou a fim de achar lugar
8 - Cпокойной Hочи
Minha roupas: metade eu ganho, de gente que não queria mais. A outra metade, minha mãe vê na loja, acha "a minha cara" e compra pra mim (E quando eu não tiver mais a minha mãe? Preciso de alguém que ache as roupas "a minha cara"). Só vou em loja por acaso.
Hoje minha mãe chegou das compras com um vestido, daqueles compridões, mas levinho. Experimentei, achei lindo! Aí minha tia soltou:
- Você devia ter visto na loja, ir com a gente. Lá tinha um monte, você é tão sozinha.
Minha tia corou, desconversou, saiu do quarto.
É PROIBIDO SER SOZINHA! - foi o que ela me gritou. Ficou sem jeito porque câncer a gente fala "aquela doença".
Ouço agora uma rádio da Rússia: радио маяковский.
Quão mais sozinha eu sou que o locutor dessa rádio?
O que esse cara tá falando? Ele deve ter apresentado a música seguinte: rock russo. E a música deve falar sobre um dia entediante, ou um amor não correspondido, ou uma festa.
Agora é a propaganda de algum produto.
Boa noite, mundo. Tem calma, tudo passará. Solidão não é nada, nada mesmo.
Ouço agora uma rádio da Rússia: радио маяковский.
Quão mais sozinha eu sou que o locutor dessa rádio?
O que esse cara tá falando? Ele deve ter apresentado a música seguinte: rock russo. E a música deve falar sobre um dia entediante, ou um amor não correspondido, ou uma festa.
Agora é a propaganda de algum produto.
Boa noite, mundo. Tem calma, tudo passará. Solidão não é nada, nada mesmo.
7 - Brincadeira do "telemarketing"
É bem simples: sempre que um operador ou uma operadora de telemarketing me liga, o desafio é adivinhar de onde ele ou ela é pelo sotaque.
A que me ligou agora era de Recife, com toda certeza. Quis elogiar o sotaque lindo dela, mas faltou coragem, visse?
A que me ligou agora era de Recife, com toda certeza. Quis elogiar o sotaque lindo dela, mas faltou coragem, visse?
XLII - Eu, mineira
Comer pão-de-queijo lendo Adélia.
Drummond.
Rosa.
Rubem.
Darcy.
Minas: meu café-com-leite.
Minas: nunca fui, mas vivo lá.
Ô, delícia!
Drummond.
Rosa.
Rubem.
Darcy.
Minas: meu café-com-leite.
Minas: nunca fui, mas vivo lá.
Ô, delícia!
XLI - Primeiro Namorado
Meu primeiro namorado se chamava Augusto:
Augusto dos Anjos.
Era amor de viver grudados na escola, só eu e ele
Naqueles nossos 13 anos.
A gente não saía pra festas
A gente não ia comer sanduíche na rodoviária
A gente ficava em casa mesmo:
Nós e outras poesias.
Augusto dos Anjos.
Era amor de viver grudados na escola, só eu e ele
Naqueles nossos 13 anos.
A gente não saía pra festas
A gente não ia comer sanduíche na rodoviária
A gente ficava em casa mesmo:
Nós e outras poesias.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
6 - Vocações
1. Ser dona de um sebo.
2. Viver da venda de crochês, costuras e bordados (feitos por mim).
3. Tocar violão numa banda.
4. Ser poeta.
5. Ser dona de um restaurante.
6. Vender artesanato na praia.
7. Ser professora de literatura brasileira.
8. Ser dona de casa e mãe.
9. Ser moradora de rua.
10. Ser uma médica nômade, percorrendo o interior do Brasil e do mundo.
11. Ser puta.
2. Viver da venda de crochês, costuras e bordados (feitos por mim).
3. Tocar violão numa banda.
4. Ser poeta.
5. Ser dona de um restaurante.
6. Vender artesanato na praia.
7. Ser professora de literatura brasileira.
8. Ser dona de casa e mãe.
9. Ser moradora de rua.
10. Ser uma médica nômade, percorrendo o interior do Brasil e do mundo.
11. Ser puta.
XL
Sempre quando estou bem
Aparece alguém pra comer meu fígado
Ainda bem que comem - só isso acho natural à boca
Queria poder ser como as madonas
Das pinturas - que se contentem em me ver
Sem exigir que eu me explique diante de cada grupo desconhecido que vem ao museu
Mas eu me vingo!
Enquanto me comem o fígado
Costuro delicadamente: coisas desconhecidas em crochet
Aparece alguém pra comer meu fígado
Ainda bem que comem - só isso acho natural à boca
Queria poder ser como as madonas
Das pinturas - que se contentem em me ver
Sem exigir que eu me explique diante de cada grupo desconhecido que vem ao museu
Mas eu me vingo!
Enquanto me comem o fígado
Costuro delicadamente: coisas desconhecidas em crochet
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
5 - Flutuando
Outro sonho. Na verdade, o sonho de um sonho.
Um abraço tão bom, um lugar não tão perto.
Eu nem lembro direito.
Mais de um ano depois, Recife ainda me atrasa pra faculdade...
Um abraço tão bom, um lugar não tão perto.
Eu nem lembro direito.
Mais de um ano depois, Recife ainda me atrasa pra faculdade...
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
4 - Carinho
Hoje eu tive o sonho mais gostoso que eu já tive na vida... Eu era mãe.
Estava numa cama e minha mãe trazia a MINHA FILHA para mim, colocava ela nos meus braços. Eu estava morrendo de medo daquele serzinho - o que ele ia fazer comigo? Aí minha mãe abaixava minha blusa, expunha meu peito, para eu dar de mamar à MINHA FILHA. Apenas aproximei ela do meu peito, minha filhinha começou a chupar, com vontade, sua primeira refeição no mundo. Era tão linda, tão linda, tão linda. O amor que eu (já) sinto por ela é inexplicável. Depois que ela terminou de mamar, andei um pouquinho com ela no colo, minhas mãos sentindo a pele macia das costinhas dela... Eu cantava pra ela, ficava perto dela o tempo todo, pensava que tinha que ser a melhor mãe do mundo. Mas tinha uma dorzinha também - a de lembrar que ela cresceria e iria embora. Por que os filhos tem que ir embora? É muita ingratidão ao amor materno, que é infinito. Que tarefa ingrata, essa de ser mãe, que tarefa gostosa, prazerosa...
Eu nunca gostei de brincar de boneca. Mas sempre gostei de crianças, até mesmo quando eu era uma. Eu não podia (e não posso) ver bebês de verdade: eu queria colocar no colo, beijar, abraçar... Mas, por eu ser também quase uma bebê na época, ninguém deixava, o que rendeu algumas fotos com cara emburrada em aniversários...
Acho que meu corpo sabe. Ele quer parir, porque eu estou na idade de parir. Ele se preparou por milhares de anos pra isso...
Sei não, fiquei com essa certeza: de que serei mãe. Seja qual for a circunstância: serei mãe. Acho até que já sou.
Estava numa cama e minha mãe trazia a MINHA FILHA para mim, colocava ela nos meus braços. Eu estava morrendo de medo daquele serzinho - o que ele ia fazer comigo? Aí minha mãe abaixava minha blusa, expunha meu peito, para eu dar de mamar à MINHA FILHA. Apenas aproximei ela do meu peito, minha filhinha começou a chupar, com vontade, sua primeira refeição no mundo. Era tão linda, tão linda, tão linda. O amor que eu (já) sinto por ela é inexplicável. Depois que ela terminou de mamar, andei um pouquinho com ela no colo, minhas mãos sentindo a pele macia das costinhas dela... Eu cantava pra ela, ficava perto dela o tempo todo, pensava que tinha que ser a melhor mãe do mundo. Mas tinha uma dorzinha também - a de lembrar que ela cresceria e iria embora. Por que os filhos tem que ir embora? É muita ingratidão ao amor materno, que é infinito. Que tarefa ingrata, essa de ser mãe, que tarefa gostosa, prazerosa...
Eu nunca gostei de brincar de boneca. Mas sempre gostei de crianças, até mesmo quando eu era uma. Eu não podia (e não posso) ver bebês de verdade: eu queria colocar no colo, beijar, abraçar... Mas, por eu ser também quase uma bebê na época, ninguém deixava, o que rendeu algumas fotos com cara emburrada em aniversários...
Acho que meu corpo sabe. Ele quer parir, porque eu estou na idade de parir. Ele se preparou por milhares de anos pra isso...
Sei não, fiquei com essa certeza: de que serei mãe. Seja qual for a circunstância: serei mãe. Acho até que já sou.
sábado, 17 de setembro de 2011
XXXIX
Um mendigo comendo tapioca olha pra mim, sorri:
"Mas é bem branquinha!"
Ganhei o dia: sou da cor de tapioca.
"Mas é bem branquinha!"
Ganhei o dia: sou da cor de tapioca.
sábado, 10 de setembro de 2011
3 - Só Tem Um 'Caribe' Na Caixa
Chorar de óculos não é legal. Sempre caem gotas nas lentes e o mundo inteiro fica embaçado.
Estou comendo chocolates um atrás do outro. Mãezinha já sabe: quando eu estou vendo o mundo por uma janela embaçada, ela sai - faça chuva ou faça sol - e compra chocolates. A lógica é química: se a serotonina secou, que me banhe a endorfina. Chocolate. Sexo. Intimidade. Beijo. Maconha. Abraço. Carinho. Venlafaxina.
Sinto mais falta da intimidade. Tenho só uma vaga lembrança, mas lembro de pessoas (em épocas) para as quais eu podia ligar sem ter medo de incomodar. Pelo contrário: parecia até que elas gostavam. Intimidade é um negócio estranho: a outra pessoa se sente lisonjeada de receber uma ligação sua tarde da noite, pra falar de um assunto já tão recorrente, já tão falado... Intimidade é meio química também: vicia. Ter em quem confiar vicia. Ter sempre um apoio, em qualquer situação, vicia. Abraços que não constrangem viciam mais que tudo nessa vida. Às doses só é permitido aumentar. Quem se contentaria com amigos de balada quando se pode ter amigos íntimos? Sair pra balada com amigos íntimos é legal. Superficialidade mata, mornice envenena. Eu não quero falar sobre a faculdade.
Lembro de quando eu vivia sem isso. Eu só tenho que me acostumar. Me dói agora, tremo agora, lampejo agora, mas vai passar. Eu só tenho que me controlar, ficar parada, sem ninguém por perto. Eu posso viver sem isso. Eu tenho que viver só. Sozinha, completamente sozinha. Eu não sei lidar com esse tipo de droga. Até minha professora de Patologia percebeu: "você é sensível demais". É pa-to-ló-gi-co.
Se me oferecerem de novo, terei que dizer não. Aliás, eu já disse alguns nãos.
Talvez o segredo das intimidades seja não deixar elas ficarem íntimas demais. Acho que isso se chama overdose. Disso as intimidades morrem.
Estou comendo chocolates um atrás do outro. Mãezinha já sabe: quando eu estou vendo o mundo por uma janela embaçada, ela sai - faça chuva ou faça sol - e compra chocolates. A lógica é química: se a serotonina secou, que me banhe a endorfina. Chocolate. Sexo. Intimidade. Beijo. Maconha. Abraço. Carinho. Venlafaxina.
Sinto mais falta da intimidade. Tenho só uma vaga lembrança, mas lembro de pessoas (em épocas) para as quais eu podia ligar sem ter medo de incomodar. Pelo contrário: parecia até que elas gostavam. Intimidade é um negócio estranho: a outra pessoa se sente lisonjeada de receber uma ligação sua tarde da noite, pra falar de um assunto já tão recorrente, já tão falado... Intimidade é meio química também: vicia. Ter em quem confiar vicia. Ter sempre um apoio, em qualquer situação, vicia. Abraços que não constrangem viciam mais que tudo nessa vida. Às doses só é permitido aumentar. Quem se contentaria com amigos de balada quando se pode ter amigos íntimos? Sair pra balada com amigos íntimos é legal. Superficialidade mata, mornice envenena. Eu não quero falar sobre a faculdade.
Lembro de quando eu vivia sem isso. Eu só tenho que me acostumar. Me dói agora, tremo agora, lampejo agora, mas vai passar. Eu só tenho que me controlar, ficar parada, sem ninguém por perto. Eu posso viver sem isso. Eu tenho que viver só. Sozinha, completamente sozinha. Eu não sei lidar com esse tipo de droga. Até minha professora de Patologia percebeu: "você é sensível demais". É pa-to-ló-gi-co.
Se me oferecerem de novo, terei que dizer não. Aliás, eu já disse alguns nãos.
Talvez o segredo das intimidades seja não deixar elas ficarem íntimas demais. Acho que isso se chama overdose. Disso as intimidades morrem.
2 - Epidemiologia E Saúde Do Trabalhador
A disciplina na faculdade trata de saúde do trabalhador.
Me pus a pensar sobre os riscos e danos a que estão sujeitos os poetas.
A começar pelos anos de contribuição: Cecília Meireles diz que escreve desde os nove anos. Aposentadoria aos 34? E o Rimbaud, que só escreveu durante quatro anos? Valeria a pena pedir a contagem desses anos pela previdência?
No entanto, os riscos da profissão são tantos que alguns morrem antes de poder usufruir da aposentadoria... Maiakovski, coitado, se matou com um tiro no peito, aos 37 anos, fazendo poesia até na hora final, rapaz trabalhador.
A Florbela Espanca, bichinha, se matou aos 36 anos, no dia do aniversário.
Em Fernando Pessoa caberia a classificação "acidente de trajeto", uma vez que o apego ao etílico pode ser claramente vinculado ao labor poético.
(E Virginia era poeta sim, nem venham.)
Só poetas estrangeiros até agora, do que tira-se que os brasileiros, ou sofrem a longo prazo, ou são mais resistentes à dor. Os daqui são mais longevos, ao menos os daqui da minha estante. Morrer de tuberculose não conta! (Manuel Bandeira até muito se aproveitou da tuberculose em sua produção). Drummond, Manoel de Barros, Vinícius, Cecília, Adélia... Todos velhinhos. Velhinhos de angústia intratada, intratável (sim, eu mesma comprovo). É um risco assumido em trabalhar com romantismo, profissão antiga, bonita. Não sei se se escolhe. Parece eu, que faço medicina por puro romantismo. Parece que vale a pena. Não sei mais se há algo que valha uma pena. Um poema vale uma pena.
Me pus a pensar sobre os riscos e danos a que estão sujeitos os poetas.
A começar pelos anos de contribuição: Cecília Meireles diz que escreve desde os nove anos. Aposentadoria aos 34? E o Rimbaud, que só escreveu durante quatro anos? Valeria a pena pedir a contagem desses anos pela previdência?
No entanto, os riscos da profissão são tantos que alguns morrem antes de poder usufruir da aposentadoria... Maiakovski, coitado, se matou com um tiro no peito, aos 37 anos, fazendo poesia até na hora final, rapaz trabalhador.
A Florbela Espanca, bichinha, se matou aos 36 anos, no dia do aniversário.
Em Fernando Pessoa caberia a classificação "acidente de trajeto", uma vez que o apego ao etílico pode ser claramente vinculado ao labor poético.
(E Virginia era poeta sim, nem venham.)
Só poetas estrangeiros até agora, do que tira-se que os brasileiros, ou sofrem a longo prazo, ou são mais resistentes à dor. Os daqui são mais longevos, ao menos os daqui da minha estante. Morrer de tuberculose não conta! (Manuel Bandeira até muito se aproveitou da tuberculose em sua produção). Drummond, Manoel de Barros, Vinícius, Cecília, Adélia... Todos velhinhos. Velhinhos de angústia intratada, intratável (sim, eu mesma comprovo). É um risco assumido em trabalhar com romantismo, profissão antiga, bonita. Não sei se se escolhe. Parece eu, que faço medicina por puro romantismo. Parece que vale a pena. Não sei mais se há algo que valha uma pena. Um poema vale uma pena.
XXXVIII
-Jayane, fala mais alto!
-Não, chegue mais perto.
"Um dia um mestre perguntou aos seus discípulos:
- Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?
Os homens pensaram por alguns momentos.
- Porque perdemos a calma - disse um deles. - Por isso gritamos.
- Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao teu lado? Não é possível falar-lhe em voz baixa? Por que gritas a uma pessoa quando estás aborrecido?
Os homens deram algumas respostas, mas nenhuma delas satisfez o mestre. Finalmente ele explicou:
- Quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poder escutar-se.
Quanto mais aborrecidas estejam, mais forte terão que gritar para se escutar um ao outro através desta grande distância.
Em seguida perguntou:
- O que sucede quando duas pessoas se enamoram? Elas não gritam, mas se falam suavemente. Por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Quando se enamoram, acontece mais alguma coisa? Notem que quase não falam, somente sussurram, e ficam cada vez mais perto do seu amor. Finalmente, não necessitam sequer sussurrar, somente se olham e isto é tudo. Assim é quando duas pessoas que se amam estão próximas.
Portanto, quando discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais. Chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de
volta."
(O amor e o grito, Clarice Lispector.)
-Não, chegue mais perto.
"Um dia um mestre perguntou aos seus discípulos:
- Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?
Os homens pensaram por alguns momentos.
- Porque perdemos a calma - disse um deles. - Por isso gritamos.
- Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao teu lado? Não é possível falar-lhe em voz baixa? Por que gritas a uma pessoa quando estás aborrecido?
Os homens deram algumas respostas, mas nenhuma delas satisfez o mestre. Finalmente ele explicou:
- Quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poder escutar-se.
Quanto mais aborrecidas estejam, mais forte terão que gritar para se escutar um ao outro através desta grande distância.
Em seguida perguntou:
- O que sucede quando duas pessoas se enamoram? Elas não gritam, mas se falam suavemente. Por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Quando se enamoram, acontece mais alguma coisa? Notem que quase não falam, somente sussurram, e ficam cada vez mais perto do seu amor. Finalmente, não necessitam sequer sussurrar, somente se olham e isto é tudo. Assim é quando duas pessoas que se amam estão próximas.
Portanto, quando discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais. Chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de
volta."
(O amor e o grito, Clarice Lispector.)
XXXVII - Oração
Deus: falta bem pouquinho pra eu acreditar em você
Se esforce só um pouquinho mais
Mas não precisa ser um câncer no colo do útero
Amém
Se esforce só um pouquinho mais
Mas não precisa ser um câncer no colo do útero
Amém
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
XXXVI
Eles não entendem que não me controlam mais.
Mas, quer saber, se quiser me abandonar, que abandone!
Se quiser ir embora, que vá!
Se quiser me ameaçar, que ameace!
Se quiser bater, que bata!
Tanto quanto melhor, inclusive.
Eu sou dessas que só aprende na marra.
(Mas que vontade de morrê-los todos. Pronto: morri.)
Mas, quer saber, se quiser me abandonar, que abandone!
Se quiser ir embora, que vá!
Se quiser me ameaçar, que ameace!
Se quiser bater, que bata!
Tanto quanto melhor, inclusive.
Eu sou dessas que só aprende na marra.
(Mas que vontade de morrê-los todos. Pronto: morri.)
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
1
Achei um livro incrível e não consigo parar de ler. Amanhã tem GT. Tenho 10 horas pra estudá-lo, sem contar horas de sono. Tenho consciência disso e, mesmo assim, não consigo parar de ler o livro. E quanto mais perto do fim chego, mais tenho necessidade de terminar de ler esse livro. Como pode isso ser tão mais interessante que neoplasias, como? É sete de setembro e leio "Crítica da Razão Tupiniquim". Nada mais apropriado. Ler esse livro me faz sentir no lugar certo, no exato lugar onde eu deveria estar. O GT é um lugar incômodo. A AF vem de um jeito ou de outro e eu devia ter viajado pro Pará. Devia ter ido passar o fim de semana com os tupiniquins, em vez de passá-lo com um livro estadunidense, sobre metástases. De qualquer forma, amanhã tem salgadinhos no GT. E amanhã eu tenho que dar uma nota a mim mesma: zero!
Ao menos pintei as unhas de amarelo... Ao menos pintei as unhas de amarelo...
Ao menos pintei as unhas de amarelo... Ao menos pintei as unhas de amarelo...
XXXV
Quando digo que me apaixono
- O dia todo e todo dia -
Falo de paixão onívora
Que vê beleza no cabelo embaraçado da menina no ponto de ônibus
Que vê beleza no cimento fresco onde pisaram
Que vê beleza em tudo que existe
E que se apaixona por tudo que existe
Parece haver uma beleza universal, em todas as coisas
E esse universo de tudo é uma grande paixão
Dá vontade
- O dia todo e todo dia -
Falo de paixão onívora
Que vê beleza no cabelo embaraçado da menina no ponto de ônibus
Que vê beleza no cimento fresco onde pisaram
Que vê beleza em tudo que existe
E que se apaixona por tudo que existe
Parece haver uma beleza universal, em todas as coisas
E esse universo de tudo é uma grande paixão
Dá vontade
XXXIV
Minha avó me olha espantada:
fixa os olhos em mim e não diz nada
e nisso fica vários minutos
como se nunca me tivesse visto
Minha tia entra em todo cômodo da casa:
menos no meu quarto
fica só na porta, olhando curiosa
eu vendo sua vontade de revirar todo o mistério dele
Meu pai chegou, não falou nada:
devia ter ido vê-lo marchar
no 7 de setembro
não fui porque sou contra
Mentira: não fui porque não quis
E minha mãe, que foi, não liga pra nada
Entra em todo lugar
Olha o que quer e fala o que quer
fixa os olhos em mim e não diz nada
e nisso fica vários minutos
como se nunca me tivesse visto
Minha tia entra em todo cômodo da casa:
menos no meu quarto
fica só na porta, olhando curiosa
eu vendo sua vontade de revirar todo o mistério dele
Meu pai chegou, não falou nada:
devia ter ido vê-lo marchar
no 7 de setembro
não fui porque sou contra
Mentira: não fui porque não quis
E minha mãe, que foi, não liga pra nada
Entra em todo lugar
Olha o que quer e fala o que quer
terça-feira, 6 de setembro de 2011
domingo, 4 de setembro de 2011
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