não dou pra essas coisas grandes não
tenho medo de falar alto
de falar aos "grandes" da academia
de falar o que penso
até de pensar eu fico impedida, em determinadas situações
não dou pra essas coisas grandes, não
não dou
pra ficar gastando e gastando
e saindo de casa
mas quem sabe para o que dou?
meio que me apeguei a isso de ser eu
e me apegarei cada dia mais
ou não, talvez eu mude
e seja completamente outra
completamente outra
ou nenhuma
será possível ser nenhuma?
nenhuma já é uma
viver é meio impossível
sábado, 8 de setembro de 2012
domingo, 12 de agosto de 2012
pessoas rindo para fotos de formatura,
que há para se dizer nesses dias de hospital?
a velhinha tem escaras na ponta do osso cóccix
porque ninguém ela tem que a vire de meia em meia hora
tem também uma ferida que deve sarar aberta
gosto das feridas que saram abertas
penso que as fechadas podem explodir a qualquer instante
e provavelmente explodirão
mas, pessoas rindo para fotos de formatura,
que será de mim se eu não rir
e ficar aqui a temer escaras
e a esperar que as feridas sarem?
que há para se dizer nesses dias de hospital?
a velhinha tem escaras na ponta do osso cóccix
porque ninguém ela tem que a vire de meia em meia hora
tem também uma ferida que deve sarar aberta
gosto das feridas que saram abertas
penso que as fechadas podem explodir a qualquer instante
e provavelmente explodirão
mas, pessoas rindo para fotos de formatura,
que será de mim se eu não rir
e ficar aqui a temer escaras
e a esperar que as feridas sarem?
domingo, 5 de agosto de 2012
perfeição não é matéria da poesia
quero chamar-te puta, gorda, vagabunda
e outras coisas como feia, bêbada e burra
e uma porção de talos para te bater
e uma cerca de arame para te amarrar
no alto de uma ponte para te jogar
para acabar com essa invenção podre de você me amar
e outras coisas como feia, bêbada e burra
e uma porção de talos para te bater
e uma cerca de arame para te amarrar
no alto de uma ponte para te jogar
para acabar com essa invenção podre de você me amar
sábado, 9 de junho de 2012
o que é estudar?
para onde vão todas as horas que gastamos na faculdade, sentada numa cadeira fazendo o que se diz ser "estudando"?
pra mim, tem um erro. se eu faço uma coisa e ela me dá dor de cabeça, sono e não me acrescenta nada, essa coisa está errada. "estudar" está errado. ler o capítulo está errado. absorver informações está errado. a aula, com uma pessoa depositando conhecimentos (e preconceitos) está errado. me deixa indignada toda a educação, tudo o que se diz hoje ser "educação". não é educação. não é mesmo. tudo é o "maior esforço", a "maior dedicação", anos e anos de mestrados e doutorados e pós-doutorados... e ainda se chega na sala de aula e não há conversa, não há diálogo, não há mentes acesas e cada vez mais intoxicadas. eu quero intoxicar as pessoas com algo que, ao que parece, é tóxico: vida! tem que ter gente dentro da aula, aula sem gente não existe, estudo sem gente não existe, me dá dor de cabeça, tudo isso. me deixem ser pura, por favor, me deixem ser pura, "hey, teacher, leave the kids alone!".
para onde vão todas as horas que gastamos na faculdade, sentada numa cadeira fazendo o que se diz ser "estudando"?
pra mim, tem um erro. se eu faço uma coisa e ela me dá dor de cabeça, sono e não me acrescenta nada, essa coisa está errada. "estudar" está errado. ler o capítulo está errado. absorver informações está errado. a aula, com uma pessoa depositando conhecimentos (e preconceitos) está errado. me deixa indignada toda a educação, tudo o que se diz hoje ser "educação". não é educação. não é mesmo. tudo é o "maior esforço", a "maior dedicação", anos e anos de mestrados e doutorados e pós-doutorados... e ainda se chega na sala de aula e não há conversa, não há diálogo, não há mentes acesas e cada vez mais intoxicadas. eu quero intoxicar as pessoas com algo que, ao que parece, é tóxico: vida! tem que ter gente dentro da aula, aula sem gente não existe, estudo sem gente não existe, me dá dor de cabeça, tudo isso. me deixem ser pura, por favor, me deixem ser pura, "hey, teacher, leave the kids alone!".
quinta-feira, 7 de junho de 2012
terça-feira, 27 de março de 2012
As relações entre o Candida albicans e o chocolate Prestígio nunca dantes reveladas
Hão de sair desintegradas depois da próxima consulta ao oncologista
Porque se não é uma questão de imunodepressão, é de depressão
E essa chuva que alaga o lá fora e deixa úmida a minha vulva também não contribui
Mas eu gosto.
Hão de sair desintegradas depois da próxima consulta ao oncologista
Porque se não é uma questão de imunodepressão, é de depressão
E essa chuva que alaga o lá fora e deixa úmida a minha vulva também não contribui
Mas eu gosto.
sábado, 24 de março de 2012
"jayane,
tu tem que parar de reclamar um pouco
parar de pensar um pouco..."
sim, eu tenho que parar de reclamar e ir numa favela, a favela do Lagamar, por exemplo, e ver como eles sofrem e como eu sou sortuda por ter isto tudo. ver como eles são obrigados a enfrentar todo tipo de humilhação e aprender a ter paciência com as pequenas humilhações cotidianas da classe média, ver como eles sofrem, como eles sofrem...
e eu tenho que parar de pensar também, pensar está me enlouquecendo, pensar está me enlouquecendo, pensar está me enlouquecendo... eu não consigo dar um passo a frente sem pensar em 21 passos para trás.
e eu sou tão jovem pra morrer... tão jovem, tão jovem... meu corpo me dá prazer, não é incrível? logo agora que ele me dá prazer, que ele está tão bonito! logo agora que o desejam, logo agora que eu posso e quero e sei o que quero... ele fica tão bonitinho de vestido. meus cabelos enrolados... eles são tão lindos, agora acho eles tão lindos. olha os cabelinhos da minha menina, como eles são pretinhos e bem enroladinhos... e os olhinhos dela, vermelhinhos, vermelhinhos... e a pele, tão branquinha, tão pálida... tão bonito, o meu corpo.
eu tenho pena de morrer, não que a vida seja bonita, mas meu corpo é meu e eu sou ele... e agora que eu sei e vejo isso, dá pena. eu quero a minha mãe.
ah, é... eu não posso chorar querendo a minha mãe, porque eu tenho mãe e tenho que lembrar que tem um monte de gente que não tem mãe. assim são as coisas nesse mundo.
"serei sempre o que não nasceu para isso
serei sempre só o que tinha qualidades
serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta"
Sou a melhor para este papel
Sim, porque não preciso ensaiá-lo
Já o vivi e ele já doeu em mim e me cortou e me levou e me fez chorar
Mas não consigo interpretar que quero este papel
Não sei ser o que me pedem e dar o que querem ouvir e ver e rir e chorar
Só sei ser a que precisa de maconha para parar de pensar
A que precisa de vodka para fazer um ménage à trois
A que não sabe interpretar que quer o papel porque realmente não o quer
Porque realmente não quer nada
E não se pode viver quando não se quer nada
Não há lugar pra esse tipo de gente
Não há lugar pra mim aqui
Fica o mundo sabendo que as melhores atrizes nunca são atrizes
terça-feira, 20 de março de 2012
segunda-feira, 19 de março de 2012
sábado, 10 de março de 2012
quinta-feira, 8 de março de 2012
domingo, 4 de março de 2012
Cansei da palavra "você"
"Você", essa palavra com pedestal
E que não me leva a lugar algum
Cansei de "vocês" também
Cansei de "futuro"
Cansei de "tempo"
Matar-se é o cansaço dos verbos
Cansei de não poder escrever com a intenção
E de as palavras serem indecisas:
Nem dizem tudo nem se calam
Não vamos nos casar
Mas veja pelo lado bom: iremos à Paris
Mesmo que apenas nos suportemos
A, mas eu cansei de "futuro"
Eu cansei de "você"
Eu cansei e sei que você diz: "já?"
"Você", essa palavra com pedestal
E que não me leva a lugar algum
Cansei de "vocês" também
Cansei de "futuro"
Cansei de "tempo"
Matar-se é o cansaço dos verbos
Cansei de não poder escrever com a intenção
E de as palavras serem indecisas:
Nem dizem tudo nem se calam
Não vamos nos casar
Mas veja pelo lado bom: iremos à Paris
Mesmo que apenas nos suportemos
A, mas eu cansei de "futuro"
Eu cansei de "você"
Eu cansei e sei que você diz: "já?"
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Abajur: Para de se iludir!
Curinga: Não posso. Ilusão é meu ganha-pão.
Abajur: Aí cê se ilude de novo! Cê sabe o que cê é.
Curinga: Não dá pra ser artista emendado-tempo. Não dá pra viver com a realidade na ponta da agulha.
Abajur: Tudo que não é arte é ilusão.
Curinga: Tudo que não é arte é ilusão.
Abajur: Você é amante do descompromisso.
Curinga: Sim, só sirvo pra vender pulseirinha na praia.
Abajur: Então, pra que isso?
Curinga: Pra...
Abajur: E então, pra que entrar nessas coisas, pra que?
Curinga: Entro pra poder sair. Encho pra poder esvaziar. A gente começa é pra poder terminar.
Abajur: Ah, tá. E não dói o caminho até lá?
Curinga: Não posso. Ilusão é meu ganha-pão.
Abajur: Aí cê se ilude de novo! Cê sabe o que cê é.
Curinga: Não dá pra ser artista emendado-tempo. Não dá pra viver com a realidade na ponta da agulha.
Abajur: Tudo que não é arte é ilusão.
Curinga: Tudo que não é arte é ilusão.
Abajur: Você é amante do descompromisso.
Curinga: Sim, só sirvo pra vender pulseirinha na praia.
Abajur: Então, pra que isso?
Curinga: Pra...
Abajur: E então, pra que entrar nessas coisas, pra que?
Curinga: Entro pra poder sair. Encho pra poder esvaziar. A gente começa é pra poder terminar.
Abajur: Ah, tá. E não dói o caminho até lá?
domingo, 26 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Eu e um amigo conversando: penetração anal, sodomia, sexo anal.
Meu Deus, que coisa feia! Como a gente pode ser tão baixo a ponto de não falar "dar o cu"?
E que pode ser mais lindo que "dar o cu"? Ora, o que pode ser mais lindo que dar qualquer coisa?
Todo mundo dá! Aliás, todo mundo quer dar. Quem não dá fica tristinho.
Poder dar. Dar a buceta, o pau, o cu, a boca, o ouvido, os cabelos, a nuca, a junta do joelho, o dedo mindinho, o suvaco, a aorta, o dente cariado, uma espinha, um bomdiaamor. Poder dar tudo é que é a grande graça. São Francisco, meu santo preferido, é bem claro: "pois é dando que se recebe". Dizem isso todos o santos, todas as santas também. Diz isso Deus. Digo isso eu, que andei longe de dar tudo.
Como eu queria ter dado mais... Dei tão pouco, tão pouco...
Alguém disse que não acredita num Deus que não dança. Pois eu não acredito num Deus que não dá o cu.
Meu Deus, que coisa feia! Como a gente pode ser tão baixo a ponto de não falar "dar o cu"?
E que pode ser mais lindo que "dar o cu"? Ora, o que pode ser mais lindo que dar qualquer coisa?
Todo mundo dá! Aliás, todo mundo quer dar. Quem não dá fica tristinho.
Poder dar. Dar a buceta, o pau, o cu, a boca, o ouvido, os cabelos, a nuca, a junta do joelho, o dedo mindinho, o suvaco, a aorta, o dente cariado, uma espinha, um bomdiaamor. Poder dar tudo é que é a grande graça. São Francisco, meu santo preferido, é bem claro: "pois é dando que se recebe". Dizem isso todos o santos, todas as santas também. Diz isso Deus. Digo isso eu, que andei longe de dar tudo.
Como eu queria ter dado mais... Dei tão pouco, tão pouco...
Alguém disse que não acredita num Deus que não dança. Pois eu não acredito num Deus que não dá o cu.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Pra tudo se acabar na quarta-feira...
![]() |
Divine, DIVA! |
Agora me vieram à mente duas drag queens gordas praticando sexo com requintes de masoquismo.
Amor romântico é isso.
Não, essa não é a minha fantasia. Há quem goste, eu não.
(Ufa! Ele já foi embora... Agora a gente pode brincar carnaval!)
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
1
Nunca pensou que fosse sentir tanta falta deles. Eles, o Grupo.
O Grupo nunca fora de amigos, é verdade. O Grupo era um motivo para ir ao bar.
Num dia como esse, ela só precisaria ligar pra um deles e todos acabariam aparecendo. Um a um, a mesa cativa dos cinco. Os pedidos de sempre. Ela com sua vodca, naturalmente. Só por causa da vodca aprendera russo. "Tudo mais é estúpido como um Dostoiévski ou um Górki".
João morreu afogado, bêbado que caiu num rio.
Pedro casou e foi morar em São Bernardo do Campo.
Não viu mais o Cláudio depois da festa de formatura.
Mas Alice estava na cidade!
- Ah, ela tá grávida, é verdade. Não pode beber...
Estava exilada mesmo. Ir ao bar sozinha era uma espécie de exílio.
Um exílio na Rússia, uma prisão na Sibéria. Não tem vodca que aqueça.
O Grupo nunca fora de amigos, é verdade. O Grupo era um motivo para ir ao bar.
Num dia como esse, ela só precisaria ligar pra um deles e todos acabariam aparecendo. Um a um, a mesa cativa dos cinco. Os pedidos de sempre. Ela com sua vodca, naturalmente. Só por causa da vodca aprendera russo. "Tudo mais é estúpido como um Dostoiévski ou um Górki".
João morreu afogado, bêbado que caiu num rio.
Pedro casou e foi morar em São Bernardo do Campo.
Não viu mais o Cláudio depois da festa de formatura.
Mas Alice estava na cidade!
- Ah, ela tá grávida, é verdade. Não pode beber...
Estava exilada mesmo. Ir ao bar sozinha era uma espécie de exílio.
Um exílio na Rússia, uma prisão na Sibéria. Não tem vodca que aqueça.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
A quem eu agradeço por saber escrever?
Não digo saber escrever, escrever mesmo
Mas escrever, escrever botando significado nas palavras
Porque tudo o mais dá errado
Falar dá errado
Pessoas sempre dão errado
Faculdade, então... é o errado dos errados
Trabalho provavelmente dará errado também
Mas escrever dá certo
Não sei se pra você, que me lê
Mas, pra mim, escrever é só o que dá certo
É minha salvação na vida
Eu posso acordar amanhã e enfrentar as coisas
Porque escrever dá certo
Escrever dá certo dentro da minha cabeça
Mesmo que eu não escreva
Porque eu estou sempre escrevendo
As vezes mando pra alguém
Mesmo as pessoas não dando certo
Às vezes eu mando
Porque escrever sobra e eu tenho que mandar
Escrever é uma felicidade só minha
Ninguém me tira
Não digo saber escrever, escrever mesmo
Mas escrever, escrever botando significado nas palavras
Porque tudo o mais dá errado
Falar dá errado
Pessoas sempre dão errado
Faculdade, então... é o errado dos errados
Trabalho provavelmente dará errado também
Mas escrever dá certo
Não sei se pra você, que me lê
Mas, pra mim, escrever é só o que dá certo
É minha salvação na vida
Eu posso acordar amanhã e enfrentar as coisas
Porque escrever dá certo
Escrever dá certo dentro da minha cabeça
Mesmo que eu não escreva
Porque eu estou sempre escrevendo
As vezes mando pra alguém
Mesmo as pessoas não dando certo
Às vezes eu mando
Porque escrever sobra e eu tenho que mandar
Escrever é uma felicidade só minha
Ninguém me tira
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Basta um instante, basta um instante
"Quando eu vi você
Tive uma ideia brilhante
Foi como se eu olhasse
De dentro de um diamante
E meu olho ganhasse
Mil faces num só instante
Basta um instante
E você tem amor bastante
Um bom poema
Leva anos
Cinco jogando bola
Mais cinco estudando sânscrito
Seis carregando pedra
Nove namorando a vizinha
Sete levando porrada
Quatro andando sozinho
Três mudando de cidade
Dez trocando de assunto
Uma eternidade, eu e você
Caminhando junto"
(Amor bastante, Paulo Leminski)
Tive uma ideia brilhante
Foi como se eu olhasse
De dentro de um diamante
E meu olho ganhasse
Mil faces num só instante
Basta um instante
E você tem amor bastante
Um bom poema
Leva anos
Cinco jogando bola
Mais cinco estudando sânscrito
Seis carregando pedra
Nove namorando a vizinha
Sete levando porrada
Quatro andando sozinho
Três mudando de cidade
Dez trocando de assunto
Uma eternidade, eu e você
Caminhando junto"
(Amor bastante, Paulo Leminski)
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
o ser mais perfeito do universo ou cansei de ser corajosa
o ser mais perfeito do universo
- sim, alguém é mais perfeito que os outros -
é o ser que conseguiu ser perfeito em covardia
é um rapaz
e ele
ele está esperando ser um velho professor fofinho de quarenta anos que ouve uma cartomante dizer que o amor da sua vida chegará aos sessenta
e ele esperará entusiasmado
junguiando
ah, cansei
não vou terminar de escrever o que tenho na cabeça
essa coisa enorme que eu queria dizer, e cheia de mágoas
pra continuar sendo corajosa
pra continuar sendo a que diz
a que age
a que beija
a que pega
a que vai atrás
essa coisa enorme que eu queria dizer, e cheia de mágoas
pra continuar sendo corajosa
pra continuar sendo a que diz
a que age
a que beija
a que pega
a que vai atrás
cansei
cansei de ser corajosa
se eu continuar fazendo massagem mental pra racionalizar isto, minha cabeça vai ficar ainda mais desproporcional em relação ao corpo
então não racionalizarei mais e deixarei o óbvio vir
já veio
taí ó
se eu continuar fazendo massagem mental pra racionalizar isto, minha cabeça vai ficar ainda mais desproporcional em relação ao corpo
então não racionalizarei mais e deixarei o óbvio vir
já veio
taí ó
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
um dia eu te chamarei pra pular amarelinha
um dia em que te chamar para pular amarelinha seja por-do-sol
um dia em que você suará e molhará o cabelo de suor
e tomará banho aqui e dormirá aqui
porque sim
porque se quer
sou baleia
estou a beira da morte
e sonho com um mundo cheio de preás
deem logo um tiro que me mate
um dia em que te chamar para pular amarelinha seja por-do-sol
um dia em que você suará e molhará o cabelo de suor
e tomará banho aqui e dormirá aqui
porque sim
porque se quer
sou baleia
estou a beira da morte
e sonho com um mundo cheio de preás
deem logo um tiro que me mate
gosto gostoso do gosto gososo de gosto do gosto de gostos gososos
o centro tem mendigos debaixo do monumento à independência do brasil
no centro todas as pessoas vendem alguma coisa
no centro todas as pessoas compram alguma coisa
no centro todas as pessoas comem alguma coisa
no centro o cachorro quente com refrigerante espoca-bucho custa 2 reais (e eu nunca tive caganeira depois)
no centro eu comprei por 10 reais um vestido que eu posso usar para ir ao centro
no centro eu comprei por 10 reais um vestido que eu posso usar para ir passeio público que fica no centro
no centro fica o passeio público
no centro tem um espelhinho numa árvore do passeio público e qualquer um que olhe pode ver eu e você
no centro tem a catedral suja e gótica e amedrontadora
o centro tem vista para o mar
no centro tem a praça do ferreira e a praça do ferreira quando o sol está se pondo é cheia de vento e bolhas [de sabão e pessoas e velhinhos fazendo nada
no centro tem uma loja do tamanho da minha casa cheia de botões e lá minha mãe comprou os botões verdes [pra colocar no vestido que eu ganhei
o parque do cocó não é mais bonito porque não é no centro
o centro é pura sofisticação
só existe poesia no centro
o centro é o lugar certo pra vagar quando a vida quer ir embora
quando a vida vai embora, primeiro ela dá uma passadinha no centro
pra ver os leões da praça dos leões
e os sebos da 24 de maio
e a santa casa de misericórdia
e as esfinges do passeio público
e o casarão
the mazy casarão
no casarão a mulher explica "você sobe a escada e ao mesmo tempo desce a rampa e dando uma [abaixadinha você vê a mulher que tem as blusas golas V"
ah, no centro as pessoas são tão feias!
no centro tem cartomante cigana ladrão doido prostituta estudante de medicina
tem praça da estação e tem trem
tem mercado são sebastião e o doidinho da esquina que me acha fofa
do centro eu vou pro dragão de mar e pra praia a pé com medo de levarem minha bolsa do peru
o centro do theatro josé de alencar onde eu abracei o rubem alves
o centro das casas antigas que agora são comércio antigo
o centro onde eu e aquele que eu ainda gosto compramos meu violão
o centro da juzaura, a mendiga que lê uma revista de cabeça pra baixo em francês
ah centro centro centro centro centro centro
"aqui eu vivi meus primeiros amores aos 15 anos"
o centro dos meus piores e melhores dias
pego o ônibus voltando
só pra passar no centro
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Lígia estava com a vaidade saindo pelos poros desde que encontrara uma relação entre os textos de Clarice e Kafka, essencialmente entre "A paixão segundo G.H." e "A metamorfose". Andava com os dois livros pra lá e pra cá, comparando trechos, relendo partes que grifara para postar em alguma rede social. Constatara uma clara in-ter-tex-tu-a-li-da-de. Teria que falar pausadamente essa palavra grande diante da professora de Literatura Comparada de Gêneros Exóticos III. Já tinha até o título do ensaio que escreveria: "Baratas voadoras da República Tcheca - intertextualidades de barriga no chão". Manoel de Barros faria o prefácio (sim, porque já era uma dissertação de mestrado). Terminaria com a famigerada canção do Renato Russo - "e você sabe o que é ter pavor, pavor, pavor de baratas voadoras?". Rússia, Ucrânia e República Tcheca, numa linda conexão do Leste Europeu, o que tornaria a sua tese de doutorado ainda mais underground (porque a França está muito clichê, não é verdade?) Até lá já teria tirado o aparelho odontológico e poderia falar in-ter-tex-tu-a-li-da-de com mais clareza. Lígia Fagundes Varella. E o Lattes mais bonito da cidade.
Mas pobre Lígia... Que desgosto, que desgosto... Já havia escolhido a citação inicial de seu trabalho quando o Jorge Alphonsus de Guimaraens, do Grupo de Estudos Kafkianos, compartilha liricamente no livro das faces a grande descoberta: um poema com 10 cantos e em decassílabos intitulado "Samsa vai dar uma chinelada na barata da Clarice".
E o mundo acadêmico perdia uma obra-prima de poeira, papel, capa dura e letras douradas a ser exposta na estante da pós-graduação da biblioteca da universidade. O seu lugar na prateleira sofre, entregue às baratas!
Mas pobre Lígia... Que desgosto, que desgosto... Já havia escolhido a citação inicial de seu trabalho quando o Jorge Alphonsus de Guimaraens, do Grupo de Estudos Kafkianos, compartilha liricamente no livro das faces a grande descoberta: um poema com 10 cantos e em decassílabos intitulado "Samsa vai dar uma chinelada na barata da Clarice".
E o mundo acadêmico perdia uma obra-prima de poeira, papel, capa dura e letras douradas a ser exposta na estante da pós-graduação da biblioteca da universidade. O seu lugar na prateleira sofre, entregue às baratas!
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Desanimo, moço!
Jayane . diz (23:33)
é isto q ta me agoniando agora: o q fazer com uma formação em medicina.
J. D. diz (23:34)
pesquisa
contraponto a industria farmaceutica
botar pra rolar a coisa clinica até
Jayane . diz (23:34)
falar com pessoas
J. D. diz (23:35)
médico não precisa ser o sujeito que cura
pode ser o sujeito que discute a cura
cura é coisa pra máquina
remédio
tratamento
J. D. diz (23:36)
médico é pra ajudar a lidar com o corpo
Jayane . diz (23:36)
gostei disso
J. D. diz (23:36)
se tem alguma função em ser médico só vejo isso
e já acho coisa demais
J. D. diz (23:37)
o resto é coisa pra tecnologia
assim como catar lixo é coisa pra tecnologia
ser gari é um desperdicio de humanidade
J. D. diz (23:38)
tudo que é automatico é desperdicio de humanidade
tudo que tem com eficiência essas coisas
não é pra gente
gente é errada, não é eficiente
J. D. diz (23:39)
gente cria, inventa, pensa
curia
voltando ao médico
J. D. diz (23:40)
médico não tem que curar, tem que curiar
e não dizer: ah vc tem isso, tome esse remédio e retorne daqui a tantos meses
vejo os cara fazendo isso sempre
tem solução pronta e vai jogando
Jayane . diz (23:46)
isso me animou
haha
J. D. diz (23:46)
caralho cê desanima com isso ..
Jayane . diz (23:46)
desanimo
J. D. diz (23:46)
véa, tem vida em todo canto
J. D. diz (23:47)
quem faz o troço é seu cortex
é isto q ta me agoniando agora: o q fazer com uma formação em medicina.
J. D. diz (23:34)
pesquisa
contraponto a industria farmaceutica
botar pra rolar a coisa clinica até
Jayane . diz (23:34)
falar com pessoas
J. D. diz (23:35)
médico não precisa ser o sujeito que cura
pode ser o sujeito que discute a cura
cura é coisa pra máquina
remédio
tratamento
J. D. diz (23:36)
médico é pra ajudar a lidar com o corpo
Jayane . diz (23:36)
gostei disso
J. D. diz (23:36)
se tem alguma função em ser médico só vejo isso
e já acho coisa demais
J. D. diz (23:37)
o resto é coisa pra tecnologia
assim como catar lixo é coisa pra tecnologia
ser gari é um desperdicio de humanidade
J. D. diz (23:38)
tudo que é automatico é desperdicio de humanidade
tudo que tem com eficiência essas coisas
não é pra gente
gente é errada, não é eficiente
J. D. diz (23:39)
gente cria, inventa, pensa
curia
voltando ao médico
J. D. diz (23:40)
médico não tem que curar, tem que curiar
e não dizer: ah vc tem isso, tome esse remédio e retorne daqui a tantos meses
vejo os cara fazendo isso sempre
tem solução pronta e vai jogando
Jayane . diz (23:46)
isso me animou
haha
J. D. diz (23:46)
caralho cê desanima com isso ..
Jayane . diz (23:46)
desanimo
J. D. diz (23:46)
véa, tem vida em todo canto
J. D. diz (23:47)
quem faz o troço é seu cortex
As férias e a depressão. Por Jayane Ribeiro.
Nas férias eu tenho tempo para soltar todos os meus demônios. Todos aqueles problemas que sempre estiveram lá. Todos os meus problemas estão aqui desde que nasci. E eles saem todos quando eu não tenho nada pra fazer. O destino do nada pra fazer só pode ser mesmo escrever livros. Sim, colocar demônios pra fora. Assim como colocar anjos. Ou uma coisa nova, totalmente desconhecida. Por isso, apesar da vontade de me matar, às vezes, meu grande sonho é não fazer nada e, assim como o Manoel de Barros, um dia ser vagabunda profissional. E sem me sentir culpada por isso.
Isso é um plano.
Isso é um plano.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
"O professor de História passou um trabalho em grupo. Quem não fizer vai ter que fazer uma prova de 10 questões. Eu prefiro fazer a prova."
(Além da misantropia, nós duas combinamos em outra coisa)
(Minha irmã, há 4 dias na escola e ainda não falou com nenhum colega. E não tá nem aí. O que tinha no leite da mamãe?)
(Além da misantropia, nós duas combinamos em outra coisa)
Minha empadinha não ficou boa
E me deu uma vontade de chorar
Eu não segui direitinho a receita
Farinha, gema de ovo e manteiga
Nas proporções da minha intuição
Queijo, castanha, creme de leite
Em vez de carne de frango
Forno médio, vinte minutos
Em vez de trinta e cinco
E minha empadinha não ficou boa
E eu já quase choro porque
Ela cheira bem
Ela é bonita
Ela tem gosto bom
Mas não é boa
Não dá vontade de comer mais
É uma pena e me deixa sentida
Que minha empadinha não desperte desejo
Por isso que eu fico assim, olhos baixos
Com um monte de louça pra lavar, sozinha
E com fome
O que eu faço com todas essas empadinhas que sobraram?
As minhas empadinhas, que eu fiz tão cheia de intuição
Elas vão pro lixo
E me deu uma vontade de chorar
Eu não segui direitinho a receita
Farinha, gema de ovo e manteiga
Nas proporções da minha intuição
Queijo, castanha, creme de leite
Em vez de carne de frango
Forno médio, vinte minutos
Em vez de trinta e cinco
E minha empadinha não ficou boa
E eu já quase choro porque
Ela cheira bem
Ela é bonita
Ela tem gosto bom
Mas não é boa
Não dá vontade de comer mais
É uma pena e me deixa sentida
Que minha empadinha não desperte desejo
Por isso que eu fico assim, olhos baixos
Com um monte de louça pra lavar, sozinha
E com fome
O que eu faço com todas essas empadinhas que sobraram?
As minhas empadinhas, que eu fiz tão cheia de intuição
Elas vão pro lixo
Tão bonito gente que acredita em Deus
Aquele Deus bonito, que trás e leva as coisas
Aquele Deus que fica no canto dele, olhando
O Deus que está na boca das crianças, que dizem:
"Foi Deus que levou a vovó"
E o Deus que as leva a brincar depois disso
Como todas as outras crianças
Um Deus que me leve
Que seja leve
Aquele Deus bonito, que trás e leva as coisas
Aquele Deus que fica no canto dele, olhando
O Deus que está na boca das crianças, que dizem:
"Foi Deus que levou a vovó"
E o Deus que as leva a brincar depois disso
Como todas as outras crianças
Um Deus que me leve
Que seja leve
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Travessia
Li o "Grande Sertão: Veredas". E a novela "Campo Geral", aquela do Miguilim, é melhor. Guimarães estava com Deus nos couros quando escreveu "Campo Geral".
Bem, o que me aconteceu em "Grande Sertão: Veredas"? Aconteceu que o livro tem um ritmo que não vou adjetivar, mas que foi assim, pra mim: as primeiras 100 páginas foram um sacrifício. Mesmo. Lia com dor, quis desistir, desisti várias vezes - e nisso eu passei mais de um ano. No que, levo essas 100 páginas lidas para Limoeiro do Norte. E lá, a mágica aconteceu. Com uma certa dorzinha adolescente em contrariar meu amado Bernardo Soares, eu mudei com a paisagem, assim como o livro. Virei a página e lá estava Riobaldo finalmente galopando nas matas de buritis, em vez de se rastejar pelas areias quentes dos sertões. Aí foi rápido: em 4 dias eu estava a 100 páginas do fim. E aí? Alegria total? Arranque final? Não. Aí o livro se tornou totalmente previsível. No que, com certa ironia, eu cito o próprio Guimarães, no exato "Grande Sertão": "o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia".
E estaria tudo acabado... se o livro não fosse escrito por João Guimarães Rosa. O enredo já estava certo para mim (aliás, antes mesmo das 100 páginas finais), porém, ler Guimarães tem sido sempre uma desconstrução - da língua, do sentido, da História, de mim, de você. E é sempre uma sabedoria adivinhada em cada pedacinho de texto. Eu não gosto de religiões, condeno instituições e ignoro a existência de um Deus... mas tenho meus cultos. O texto de Guimarães Rosa é um dos meus cultos. E "Grande Sertão: Veredas" foi um grande encontro com os meus sagrados. Adoro palavras, letras. Gosto de comê-las com farinha de macaxeira e mel de abelha de jurema, debaixo de um pé de juá. "Grande Sertão:Veredas" chega é doce. (Mas o Miguilim é mais.)
Bem, o que me aconteceu em "Grande Sertão: Veredas"? Aconteceu que o livro tem um ritmo que não vou adjetivar, mas que foi assim, pra mim: as primeiras 100 páginas foram um sacrifício. Mesmo. Lia com dor, quis desistir, desisti várias vezes - e nisso eu passei mais de um ano. No que, levo essas 100 páginas lidas para Limoeiro do Norte. E lá, a mágica aconteceu. Com uma certa dorzinha adolescente em contrariar meu amado Bernardo Soares, eu mudei com a paisagem, assim como o livro. Virei a página e lá estava Riobaldo finalmente galopando nas matas de buritis, em vez de se rastejar pelas areias quentes dos sertões. Aí foi rápido: em 4 dias eu estava a 100 páginas do fim. E aí? Alegria total? Arranque final? Não. Aí o livro se tornou totalmente previsível. No que, com certa ironia, eu cito o próprio Guimarães, no exato "Grande Sertão": "o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia".
E estaria tudo acabado... se o livro não fosse escrito por João Guimarães Rosa. O enredo já estava certo para mim (aliás, antes mesmo das 100 páginas finais), porém, ler Guimarães tem sido sempre uma desconstrução - da língua, do sentido, da História, de mim, de você. E é sempre uma sabedoria adivinhada em cada pedacinho de texto. Eu não gosto de religiões, condeno instituições e ignoro a existência de um Deus... mas tenho meus cultos. O texto de Guimarães Rosa é um dos meus cultos. E "Grande Sertão: Veredas" foi um grande encontro com os meus sagrados. Adoro palavras, letras. Gosto de comê-las com farinha de macaxeira e mel de abelha de jurema, debaixo de um pé de juá. "Grande Sertão:Veredas" chega é doce. (Mas o Miguilim é mais.)
Burrice
Eu tenho saudade é do seu cabelo
De boca, de mãos, nem sei se suas
Não te imagino falante e inteligente
Te quero calado e burro
Não me sinto culpada
E não tenho medo de pau murcho
Porque se não dá certo a gente sempre ri
E se dá certo, também
De boca, de mãos, nem sei se suas
Não te imagino falante e inteligente
Te quero calado e burro
Não me sinto culpada
E não tenho medo de pau murcho
Porque se não dá certo a gente sempre ri
E se dá certo, também
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
"Deixei meu corpo querer Diadorim; minha alma? Eu tinha recordação do cheiro dele. Mesmo no escuro, assim, eu tinha aquele fino das feições, que eu não podia divulgar, mas lembrava, referido, na fantasia da ideia. Diadorim - mesmo o bravo guerreiro - ele era para tanto carinho: minha repentina vontade era beijar aquele perfume no pescoço: a lá, aonde se acabava e remansava a dureza do queixo, do rosto... Beleza - o que é? E o senhor me jure! Beleza, o formato do rosto de um: e que para outro pode ser decreto, é, para destino destinar... E eu tinha de gostar tramadamente assim, de Diadorim, e calar qualquer palavra. Ele fosse uma mulher, e à-alta e desprezadora que sendo, eu me encorajava: no dizer paixão e no fazer - pegava, diminuía: ela no meio dos meus braços! Mas, dois guerreiros, como é, como iam poder se gostar, mesmo em singela conversação - por detrás de tantos brios e armas? Mais em antes se matar, em luta, um o outro. E tudo impossível."
(João Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas. 592-593)
sábado, 21 de janeiro de 2012
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
Papai não tem dinheiro pra me pagar a Rose
Papai não tem dinheiro pra me pagar o Rosa
(Mas eu economizo do almoço e compro o Rosa mesmo assim)
Papai...
Você só trabalha e eu só gasto
E você ainda se orgulha de mim
Se orgulha de quê?
De eu dar um jeito de brigar com todas as pessoas?
Ou só de eu dar um jeito de brigar com você?
Você devia me dar uma surra
Uma grande surra
Que era isso que eu merecia
Só por ter nascido eu
Surras todos os dias
Trabalho pesado todos os dias
Pra eu não pensar nunca mais
Nunca mais
Nunca mais
Nunca mais
Papai não tem dinheiro pra me pagar o Rosa
(Mas eu economizo do almoço e compro o Rosa mesmo assim)
Papai...
Você só trabalha e eu só gasto
E você ainda se orgulha de mim
Se orgulha de quê?
De eu dar um jeito de brigar com todas as pessoas?
Ou só de eu dar um jeito de brigar com você?
Você devia me dar uma surra
Uma grande surra
Que era isso que eu merecia
Só por ter nascido eu
Surras todos os dias
Trabalho pesado todos os dias
Pra eu não pensar nunca mais
Nunca mais
Nunca mais
Nunca mais
EU NÃO SOU DE LUTA
Camilla, concordo com você. Mesmo, mesmo, mesmo.
Sobre os calouros, não quero discutir nada com eles AGORA, porque eles simplesmente não estão nem aí e não acho que eles estão de parabéns nem que mereçam passar por (mais) 6 anos alienantes naquela faculdade. Tenho é pena dos bichinhos, todos animados com a universidade. E não é só porque é medicina. Qualquer curso é um caos.
Aliás, grande parte da minha presença em atividades do C.A. foi motivada por interesse sexual, afetivo ou intelectual. Porque eu sou muito carente (outra coisa que eu não acho errada, nem feia, nem tenho vergonha). E o C.A. era o único lugar onde eu me encontrava na faculdade.
ERA.
Porque eu já não sei se me encontro mais.
Aliás, eu vou pro COBREM e aquilo no que mais penso é que vou reencontrar um amigo lá. Vou pro COBREM mais por uns abraços de alguém que eu gosto e algumas horas de conversa do que por discussões propriamente ditas. Porque eu já percebi que elas ou são repetidas, ou vão ser esquecidas em breve.
Meu desejo de mudança existe.
Eu troco qualquer discussão importantíssima sobre política por um minutinho que seja com uma pessoa que eu goste.
Política não dá prazer ao meu corpo. Não me toca, não me alimenta. Não me seduz.
(Pronto, agora só falta colocar isso como resposta ao e-mail-bombardeio da Camilla.)
Você deve estar muito cansada.
Lutar, lutar, lutar e ver que não existem pessoas dispostas a fazer o mesmo que você fez todos esses anos para continuar o seu lutar, lutar, lutar... deve ser o mais cansativo (ou irritante).
Pois é. Não vou colocar aqui a desculpa de que não fui porque acordei tarde (de fato, acordei já 10 horas), porque quando eu quero sair pra namorar, eu coloco o despertador e chego no lugar beeeem cedinho. Não coloquei isso de namorar à toa. É que pra sair pra namorar eu tenho VONTADE. Pra ir participar da maioria das 'coisas' do C.A. eu não tenho. Então fica fácil arranjar desculpinhas ou me fazer de vítima, como eu já me fiz muitas vezes.
Camilla, Max e todas essas pessoas que tem vontade e ânimo de ir à luta diariamente... PARABÉNS, eu admiro vocês, mas eu não sou assim. Às vezes eu quero, às vezes não. Às vezes eu só quero ficar em casa com meus livros.
Aí vocês dizem: "NÓS TAMBÉM, JAYANE! Mas nós não fazemos isso porque acreditamos em algo e blablabla".
Pois é exatamente nisso que eu não consigo acreditar. Eu não tenho certeza de nada que eu faço.
Eu não consigo fazer as coisas apenas pelo interesse comum, sem colocar o meu próprio interesse no saco. E não acho que isso seja sujo, feio ou ruim. Acho que NINGUÉM FAZ AS COISAS SÓ PELO INTERESSE COMUM.
Eu consigo ver as absurdidades do nosso mundo, claro que vejo. Mas eu quero viver, caramba!
Tudo que eu quero é sentir que estou viva! E o meu "se sentir viva" nem é nada demais... Na maioria das vezes é só ler e escrever meus livrinhos.
Sobre os calouros, não quero discutir nada com eles AGORA, porque eles simplesmente não estão nem aí e não acho que eles estão de parabéns nem que mereçam passar por (mais) 6 anos alienantes naquela faculdade. Tenho é pena dos bichinhos, todos animados com a universidade. E não é só porque é medicina. Qualquer curso é um caos.
Ah, mas o papel do Centro Acadêmico... Pois é, a gente luta pelo que mesmo? São um milhão de problemas a serem resolvidos, um milhão de pessoas com quem a gente tem que brigar e passagens em sala que ninguém escuta, nem dá atenção e manifestações que chegam a ser risíveis aos dirigentes e ... ... ... ... ... ...
E não é que eu esteja desistindo. Não é mesmo. Porque meu ânimo se reacende por qualquer coisinha. Mas até essa coisinha não existe.
Eu não quero deixar minha cama e meu Rosa num dia nublado para passar tinta na cara de gente. Eu fiz isso ano passado, mas só fiz porque tinha interesse sexual por uma das pessoas que iam estar lá. (Ah, e se você riu disso é porque tem também)
("Ah, mas eu fui, porque eu acredito nos calouros e blablabla." Parabéns pela sua fé, então.)
Aliás, grande parte da minha presença em atividades do C.A. foi motivada por interesse sexual, afetivo ou intelectual. Porque eu sou muito carente (outra coisa que eu não acho errada, nem feia, nem tenho vergonha). E o C.A. era o único lugar onde eu me encontrava na faculdade.
ERA.
Porque eu já não sei se me encontro mais.
Aliás, eu vou pro COBREM e aquilo no que mais penso é que vou reencontrar um amigo lá. Vou pro COBREM mais por uns abraços de alguém que eu gosto e algumas horas de conversa do que por discussões propriamente ditas. Porque eu já percebi que elas ou são repetidas, ou vão ser esquecidas em breve.
(Nossa, que belo exemplo pros mais novos, que belo incentivo à tão falada transitoriedade!)
Meu desejo de mudança existe.
Mas não resiste.
Não resiste ao meu desejo de vida.
(Por mais carcomida que seja)
Não resiste a tanto tempo.
Eu troco qualquer discussão importantíssima sobre política por um minutinho que seja com uma pessoa que eu goste.
Política não dá prazer ao meu corpo. Não me toca, não me alimenta. Não me seduz.
Pelo menos não agora. Eu não sei como vai ser amanhã ou depois.
E não, a faculdade de medicina também não me seduz, na maioria das vezes. E no entanto eu continuo indo, né? Olha, que contradição! Olha que contradição a falta de opção.
É assim que eu me sinto. E eu tenho certeza que não sou a única.
E achei melhor responder logo, assim que li, porque sei que não responderia se deixasse o tempo passar.
E, se respondesse, acabaria enchendo o texto de hipocrisias. E eu já estou cansada de todas elas.
Eu já quis dizer isso muitas vezes, mas sempre acabava pensando: seria praticamente uma carta de saída do C.A. Mas, enfim, eu já escrevi isso tudo, foda-se, e só falta clicar em ENVIAR.
"Personne ne prend au sérieux à 19 ans."
Ah, e eu não vou mandar um ABRAÇÃO OU UM XERÃO BEM GRANDE pra ninguém. Porque eu não acho isso real, tantos abraços e tantos beijos quando na verdade tá todo mundo cortando uns aos outros ou se escondendo pra não falar o que realmente pensa.
(Pronto, agora só falta colocar isso como resposta ao e-mail-bombardeio da Camilla.)
domingo, 15 de janeiro de 2012
Eu percebi que eu te queria quando tu foste até a varanda e eu quis ir atrás de ti. E te beijar. E eu só tinha conversado contigo, a sós, por alguns minutos. Na minha vida.
Eu fiquei desejando isso - isso de te beijar na varanda - por três minutos e vinte e sete segundos. Era uma da Billie Holiday e eu não fiquei desejando isso por esse tempo aí. Eu ainda desejo, agora. Três minutos e vinte e sete segundos foi só o tempo no qual eu fiquei pesando o tempo. Três minutos e vinte e sete segundos segurando o tempo por argolas nos bicos dos seios e acompanhando a linha sanguínea vermelha, que fazia a contagem regressiva para mim.
Pareces tão suja...
sábado, 14 de janeiro de 2012
Sangue de Hilda Hilst tem poder!
INCRÍVEL. INCRÍVEL!
INCRÍVEL, INCRÍVEL, INCRÍVEL.
Li "O caderno rosa de Lori Lamby".
TANTO PRAZER!
Hilda, só li esse livro seu, mas já digo: SUA GOSTOSA!
Ainda não tenho palavras...
INCRÍVEL, INCRÍVEL, INCRÍVEL.
Li "O caderno rosa de Lori Lamby".
TANTO PRAZER!
Hilda, só li esse livro seu, mas já digo: SUA GOSTOSA!
Ainda não tenho palavras...
Sobre lembrar que eu não presto
"Olhava a noite linda, estrelas, lua, e toda aquela maravilha não tinha a beleza da boceta de Corina."
(O caderno rosa de Lori Lamby)
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
(Este poema está em construção.)
Garoto, seu destino é me deixar vermelha
De sol, de vergonha, de barba
(Garoto, invente vermelhos em mim!)
Vermelho de sinal de trânsito que não quer fechar
Et le rouge des flamboyants
De sol, de vergonha, de barba
(Garoto, invente vermelhos em mim!)
Vermelho de sinal de trânsito que não quer fechar
Et le rouge des flamboyants
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Confesse que foi você
Hoje eu descobri que todo mundo peida
E que peidar juntos torna as pessoas mais íntimas
E - por que não? - mais unidas
Quantos relacionamentos humanos
Não foram vítima do excesso de sexo
E da ausência de peidos?
(Ou de beijos, ou de beijos)
E que peidar juntos torna as pessoas mais íntimas
E - por que não? - mais unidas
Quantos relacionamentos humanos
Não foram vítima do excesso de sexo
E da ausência de peidos?
(Ou de beijos, ou de beijos)
sábado, 7 de janeiro de 2012
Clarice me dá nojinho
Não tem como alguém legal não ser chato
Se alguém legal não me irritar de vez em quando
Suspeito de invasão alienígena
Como amar uma pessoa sem odiá-la?
Amigo mesmo, só depois da primeira briga
Eu tenho certeza que não suportaria nem um dia com os Fernandos Pessoas
Clarice, então? Nojinho dela!
Eu e a Adélia Prado, se ver é só pra brigar
Não quero paz
Quero conflito
Quero fogo
Gritos
Se a paz dura muito tempo, sinto que algo está muito errado
E forjo meu próprio conflito
Alguma coisa tem que queimar aqui dentro
Se alguém legal não me irritar de vez em quando
Suspeito de invasão alienígena
Como amar uma pessoa sem odiá-la?
Amigo mesmo, só depois da primeira briga
Eu tenho certeza que não suportaria nem um dia com os Fernandos Pessoas
Clarice, então? Nojinho dela!
Eu e a Adélia Prado, se ver é só pra brigar
Não quero paz
Quero conflito
Quero fogo
Gritos
Se a paz dura muito tempo, sinto que algo está muito errado
E forjo meu próprio conflito
Alguma coisa tem que queimar aqui dentro
Gaya me protegerá do fim do mundo
Me sinto uma personagem.
Me sinto minha personagem preferida de alguma série, livro, alguma coisa que eu mesmo faço.
Me sinto um escritor cujos livros eu leio.
Me sinto observador de um museu cujo artista sou eu.
Me sinto na minha estante, entre o Hans e o Dante
Me sinto uma flor na roseira que o eu mesmo plantou.
E se eu for aquele pássaro na janela e, de repente, sair voando?
Talvez eu esteja só sublimando
Talvez eu esteja alucinando
Tem um monte de bichinhos andando pelo meu quarto: Gaya, a terra de Aya.
Fiz meu próprio zoológico
Uma reprodução do meu habitat natural
Onde eu me sinto legal
Até sem tomar nada
Que eu tenho é pena de colocar os livros da minha cabeça no papel
Eu deixo meus bichinhos, os ayanos, todos soltinhos
Soltinhos pra beber meu uísque:
Que tá acabando e só podem ser eles - eu nunca bebo!
Me sinto minha personagem preferida de alguma série, livro, alguma coisa que eu mesmo faço.
Me sinto um escritor cujos livros eu leio.
Me sinto observador de um museu cujo artista sou eu.
Me sinto na minha estante, entre o Hans e o Dante
Me sinto uma flor na roseira que o eu mesmo plantou.
E se eu for aquele pássaro na janela e, de repente, sair voando?
Talvez eu esteja só sublimando
Talvez eu esteja alucinando
Tem um monte de bichinhos andando pelo meu quarto: Gaya, a terra de Aya.
Fiz meu próprio zoológico
Uma reprodução do meu habitat natural
Onde eu me sinto legal
Até sem tomar nada
Que eu tenho é pena de colocar os livros da minha cabeça no papel
Eu deixo meus bichinhos, os ayanos, todos soltinhos
Soltinhos pra beber meu uísque:
Que tá acabando e só podem ser eles - eu nunca bebo!
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
O grande livro da minha infância
Da bibliotequinha do Hospital Albert Sabin.
Lembro-me de acordar no meio da noite e pedir pra minha mãe ir buscar esse livro. E eu passando as páginas com minha mãozinha furada de soro. Eu queria fazer biscoitos de quebrar queixo de criança. Colocar uma ferradura de 7 furos na porta dá uma sorte danada. Como eu amo as bruxas...
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Não quero terminar este poema
As dobras dos meus joelhos estão em carne viva
E pedaços da carne estão nas minha unhas
Porque eu tinha que me ferir
O mundo está todo em cacos
Meu mundo está todo em pó dos cacos do mundo
Que eles usam pra fazer café e tomar ao som de um qualquer da bossa-nova
As palavras são letras
E letras tem natureza
Que muda com a paisagem
Mas agora eu
E pedaços da carne estão nas minha unhas
Porque eu tinha que me ferir
O mundo está todo em cacos
Meu mundo está todo em pó dos cacos do mundo
Que eles usam pra fazer café e tomar ao som de um qualquer da bossa-nova
As palavras são letras
E letras tem natureza
Que muda com a paisagem
Mas agora eu
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